segunda-feira, abril 03, 2006, posted by Ricardo Mesquita at 8:19 da tarde
São quatro da manhã, e ele permanece acordado. Lá fora, um galo com o relógio adiantado vai cantando sozinho. A noite faz-se acompanhar de fantasmas e enquanto ele recorda a vida, o cigarro queima lentamente no cinzeiro, que quase transborda cinza. São assim as suas noites, passadas em claro a recordar um passado que teima em ser presente. No entanto, continua sem futuro. O cigarro já não arde, chegou ao filtro. Mas ele nem repara, continuando perdido no tempo. Tempo esse que vai passando sem que ele note. Finalmente, a mente regressa ao corpo. Faltam agora dez minutos para as cinco. Ele olha em redor, e a cortina mexe-se. Levanta-se da cadeira, onde repousa há seis horas, e fecha por completo a janela. A lua olha-o com desconfiança, enquanto um morcego dança com o poste de electricidade. Ele afasta-se. A noite está demasiado sombria. Olha novamente em seu redor e constata que o quarto está repleto de memórias. Avança até à prateleira de onde retira uma garrafa. Acende um cigarro e volta a sentar-se. É então que, entre umas passas no cigarro, afoga os seus fantasmas num copo de Gin. É este o seu antídoto. É este o seu truque para que quando acordar, possa viver sem problemas. Até que volte a sentar-se naquela cadeira, e recomece a recordar.
 
3 Comments:


At segunda-feira, abril 03, 2006 11:54:00 da tarde, Blogger T.

"um passado que teima em ser presente."

e há noites assim...pesadas sombrias...que nos comem os dias..

(gostei tt do texto..parabéns!)

 

At terça-feira, abril 04, 2006 3:53:00 da tarde, Blogger Margarida Balseiro Lopes

Como já te disse, um retrato brilhante da noite! Quase tão perfeito como o que é traçado no livro? A Casa Quieta de Rodrigo Guedes de Carvalho. Uma sugestão...

 

At domingo, junho 11, 2006 3:15:00 da manhã, Anonymous Anónimo

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