sábado, novembro 25, 2006, posted by Pedro Carvalho at 5:00 da tarde
"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar ."

Friedrich Wilhelm Nietzsche



Se existirem leitores imcomodados tambem já encontrámos razão.
 
quinta-feira, novembro 23, 2006, posted by Pedro Carvalho at 10:41 da tarde
Planto uma árvore pequena e frágil,
Filha de minhas histórias e sinais.
A ela lhe dou minha atenção, saber e cuidado.
A ela lhe conto as terras de sua raiz,
A ela lhe conto o seu tronco e seus cortes,
A ela lhe conto suas folhas, persistentes claro,
A ela lhe conto sua flor e o vento que a levou.

Conto-lhe seu fruto, orgulhoso resultado,
Lembrança de quem um dia floriu.
Toco seu fruto, sumo e casca do mais doce viver.
Beijo seu fruto, fruto de quem planta árvores.

Cada árvore, feito símbolo meu.
Frondoso resultado de mágoas antigas.
Histórias que planto no caminho que percorri.
E vale a pena sua sombra e frescura,
E vale a pena trepar-te e ver-me de cima.

Eu sou minhas árvores.
Minha memória, minhas canções, minhas árvores.
Vigorosas nascendo pequenas,
Mas grandes que ficam de tantos Invernos passar.
De paternal velhice irão morrer aquando eu.
Secando na sobriedade de morrer de pé.


Pedro Carvalho 23/11/06
 
domingo, novembro 19, 2006, posted by Pedro Carvalho at 8:32 da tarde
”Vês este vazio por cima das nossas cabeças? É Deus. Vês aquela frincha na porta? É Deus. Vês aquele buraco na terra? É ainda Deus. O silêncio é Deus. A ausência é Deus. Deus é a solidão dos homens.”

Jean-Paul Sartre

Para mim, a mais perfeita definição conhecida. Obrigado, diz a Humanidade.
 
quarta-feira, novembro 15, 2006, posted by Pedro Carvalho at 7:04 da tarde
Lisboa, 15 de Novembro de 2006
Belo dia, solarengo, algo frio, mas suportável. Tempo de sapatilhas, calças num tecido quente, camisa leve mas apoiada num casaco grosso. Saio de casa bem cedo e cedo chego à faculdade. “Olá”, “Bom dia”, “Tudo bem?”, “Como está?”. Após isso concluí que estava “Bem obrigado”. Sucedeu-se a verdadeira bateria de aulas previstas e o almoço. O tempo estava alterado.
As pequenas gotas de chuva guardadas para o meio da manhã encorparam numa chuva forte após a hora de almoço. Tinha coisas a fazer no edifício de ciências económicas e por ali me mantive sem frustração molhada. A chuva não cessou, não conhecia abrandamento momentâneo, complicando esgotos, paragens de autocarro, beirais, acessos pedonais, passadeiras, estradas, passeios e ladeiras. Até ao caos e sem fim. A revolta entoava nos céus e era visível na invisibilidade provocada pelo névoa baixa. Hora de ir embora. Fui.
Entre a faculdade e todo o recinto da Universidade Católica os poucos metros pareciam alargados pelo desconforto pluvial, mas eu segui rumo até ao primeiro ponto de desistência, uma paragem de autocarros. Por lá estavam todos os desistentes da também curta caminhada que haviam acabado de fazer. Eu não me abriguei, e segui olhando o chão naquela que após o segundo minuto era já a maior constipação em potência da minha vida! Todo o viaduto que liga a faculdade ao palma é inóspito em qualquer dia do ano, hoje era mais. Chutava água em passadas seguras e firmes, faltava apenas levantar a cabeça. Algo me fazia seguir sem pensar em paragens nem em chegadas, algo fazia-me apenas caminhar sobre toda a chuva do mundo, algo que apenas a mim me fizera caminhar entre três milhões de seres iguais, algo que tenho dentro de mim sempre. Por carregar numa pequena vela a mais forte das chamas, caminhava eu sobre os mal dizeres do paraíso, num baptismo revigorante. A chuva cai como glória dos distintos. Ao sol que é para todos, rasgava o céu uma chuva que por estandardização social, apenas me molhava a mim. Aos distintos o beijo da chuva.
Porque a chuva não apaga a chama de um “Mais Além”. Porque a chuva tudo banha e porque poucos se deitam nela, caminhava eu. Chegado ao Palma começava a perceber todo aquele andar. Era preciso levantar mesmo a cabeça. Quando chove muito, não chove demais. Levanto a cabeça e na aparente inocência translúcida da água, esconde-se a força de nos cegar. Quando chove muito, não chove de mais. Sigo de rosto vincado no resto do caminho. Olho nos olhos quem não me vence, entro dentro da alma daquela chuva representada no nevoeiro cerrado do metro seguinte, sou o seu pesadelo, o único que não se abriga e escolhe o desafio. Três milhões de pessoas, a chuva, e alguém carregando uma vela. Todos sem ordenação possível perante o dilúvio.
No fim da encosta descida, esconde-se uma esquina a virar sem qualquer reserva. O vento que não me tocara na descida do Palma, serve-se de cada frincha aberta na minha alma para me gelar. Existirá eterno desconforto em cada frincha latente, mas são esquinas que se dobram ao virar de página. Páginas pesadas de dias que nos parecem iguais.
Entre aviões, entoa um trovão de som grave. Já não tenho medo de trovões. Hábito que faz milagres não será hábito de monge. Sem religião a chuva faz milagres. No metropolitano ou no autocarro não chove nem faz sol. Existem então pessoas em porções de cem nesses locais. Até casa o caminho é agora mais curto e desinteressante, porque num quarto de hora o baptismo da chuva me beijou, mostrou-me que nunca chove de mais, mostrou-me que a maior transparência tem a maldade de nos ofuscar, ensinou-me que o nevoeiro tem medo de quem o enfrenta, contou-me o que é um trovão, golpeou-me as frinchas abertas, mostrou-me o que é ser “Mais Além”.
Cheguei a casa e a minha mãe falou-me de temporal. Não tinha sentido nada e a chama que trago sempre comigo estava mais acesa e incandescente que nunca. Acho que não choveu porque para um “Mais Além”, quando chove muito, não chove demais.
 
sábado, novembro 11, 2006, posted by Pedro Carvalho at 9:22 da tarde
O Pastor

Ai que ninguém volta
Ao que já deixou
Ninguém larga a grande roda
Ninguém sabe onde é que andou

Ai que ninguém lembra
Nem o que sonhou
(e)aquele menino canta
A cantiga do pastor

Ao largo
Ainda arde
A barca
Da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia

Ao largo
Ainda arde
A barca
Da fantasia
E o meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria


Letra: Pedro Ayres Magalhães
 
sexta-feira, novembro 10, 2006, posted by Pedro Carvalho at 7:30 da tarde
Não sei que dia é hoje.
Não sei que horas são.
Não sei que astro se ergue no céu.
Não sei se hei-de acordar,
Talvez dormir, talvez jantar…

Não. Eu não vou perguntar a ninguém.
Desabafo ao meu ouvido perguntas soltas,
Aquelas que me fazem durar.

Um dia gostava de viver de verdade!
Correr pelos carreiros da maior evasão,
Numa loucura feliz e sem história.
Não. Não me vou lembrar de nada,
E prometo não contar esta aventura…
Mas eu gostava, ahhh… Como gostava!
Ser loucamente livre. Ser unicamente livre.

Nada existe de mais livre que o alheamento.
Total, incondicional, exagerado.
Não sei que dia é hoje.
Não sei que horas são.
Mas sou tão estúpido e dominável como qualquer outro,
Qualquer outro que tenha de olhar o calendário.

A liberdade, a única sem limites,
Terrível perigo de civilizações aborrecidas e ordenadas,
Não existe em plena Razão. Talvez em êxtase!

Dêem-me a feliz loucura de nada temer,
Nada conhecer, nada procurar, nada memorizar,
Nada ofender, nada correr, nada segredar.
Até nada Ser, se Ser for condicionante!
Dêem-me esse total desentendimento,
E nesse dia entendo toda a irremediável sina,
A estupidez das crenças, modelos e fanatismos…

O que é uma sociedade?
Eu sozinho tenho de memórias e marcas tais,
Que meto sociedades no bolso dos fundos,
Entre a roçada ganga dos preconceitos,
E os forros imperfeitos da justiça.

Mil e uma vez queria lagosta, comi pão!
Injustiça diabólica e “fome social”.
Sou ou não sou uma bela sociedade?
Um par de raras vezes me calei,
Fui de políticas, cosméticos! Até caí em logros!
Sou ou não sou uma bela sociedade?

A justiça vai a oftalmologistas caros,
Os caros cidadãos esperam de pé e a pagar!
Contaram-me ontem que existia “dinheiro”,
Fui visitá-lo ao casino, acho que não é coisa de valor…
Nos media anorécticos e paranóicos dão disso!
Nas finanças parece que tiram, mas é social!

Vi também uns quantos tontos a serem felizes,
Devem ser tontos, todo o social olhava de lado para eles…
Acho que esses não são sociedades,
Não têm dinheiro, preocupações, modas e deuses plastificados.
Deve ser coisa feia não ser social…

Amanhã talvez saiba que dia será.
Dia de contribuição autárquica, Derrama,
Greves, Frustrações, injuriar a Europa, Desemprego,
Votar social blasfemando a sociedade…
Enfim… Quase por fim…

Vou ler um livro, escrever uma aberração social,
Ver quem chora de sede e guerra,
Dar-lhes uma mão e ser diferente.
Isto do social cansa, queria ser diferente um dia…
Isso! Ser livre!
Não há no supermercado?
Então que se dane! Compro banalidades!
Enfim… E agora por fim…
Sentido com o carinho que lhe confiarem.

Gostava de beijar todos os que amo.
Os meus lábios são livres naquelas bochechas…
Escrevi um talvez não isto sei lá! Isso mesmo!
Escrevi mergulhado na angustiante sociedade.
Então escrevi linhas talvez não isto sei lá.
Escrevi-as de livre e finalmente espontânea felicidade.


Pedro Carvalho (não datado)
 
domingo, novembro 05, 2006, posted by Pedro Carvalho at 1:49 da tarde
Ultimamente este blog não tem sofrido significativas alterações, coisa que em breve vai mudar, isto porque tenho estado bastante ocupado e só agora me voltei a libertar para outras coisas que não a minha ocupação diária, e por vezes até alguns compromissos sociais. Por isso, ando a fazer uma espécie de antevisão daquilo que em breve sairá neste blog. Será uma crónica de âmbito abrangente, sobre as primeiras reais impressões de fundo sobre Lisboa. O trabalho já tem nome: "O Império da Cegueira" e espero que não só seja publicado brevemente, como também, vá ao vosso interesse e se possível encontro.
Posta a explicação, esperem notícias.
Fiquem bem
 
sábado, novembro 04, 2006, posted by Pedro Carvalho at 1:59 da tarde
Uma pequena nota para apenas referir que quando volto, ainda me faço desconfortávelmente notar para alguns. Aos que andam mais assombrados não é verdade...

Aos outros, esses pelos quais regresso sempre que posso, até ja.
Fiquem bem