quinta-feira, agosto 03, 2006, posted by Ricardo Mesquita at 1:28 da manhã
E lá passou mais um Bodo. E como é emocionante frequentar as festas da santa terrinha. Na manhã de quinta já se notava um cheiro a Bodo no ar (isso ou um cheiro a farturas, já que são cheiros que se confundem facilmente). Pombal estava caótico: o transito estava mais impossível que o costume; os passeios transbordavam pessoas para a estrada antevendo as típicas noites “bodistas”. Um verdadeiro êxodo rural. Mas para mim a tarde foi apenas de preparação para dias que aí vinham, com muito descanso e muito Omerta, já que tinha a perfeita consciência que estaria afastado dessa vida, pelo menos, até terça.
Já mais à noite a procissão das velas dava o pontapé de saída oficial para o Bodo 2006, enquanto o Benfica levava um banho de bola do Sporting. E enquanto (por motivos de força maior) o corpo andava por entre a procissão, a mente já imaginava as cervejas que mais tarde viriam a escorrer pela garganta. E escorreram, aliás assim que a procissão terminou juntei-me ao “grupo” naquela que viria a ser a nossa casa durante as festividades: o bar dos motards. Foi um momento de reencontro pois o “grupo” andava afastado há uns dias, o que não iria acontecer durante o Bodo, já que praticamente não nos separámos. Foi ainda na primeira incursão pelo bar dos motards que se deu o primeiro contacto visual com Fantasmas do Passado. Também estes andavam afastados, e também estes estiveram sempre por lá, ainda que, felizmente, mais distantes. No que toca ao verdadeiro Bodo a noite foi fraquinha. As bandas não tinham público e o pouco que lá estava parecia demasiado exigente. Quem viu aquela “noite da juventude” é bem capaz de ter temido pelo futuro do Bodo. Felizmente as noites seguintes provaram que o Bodo é tão imprescindível a Pombal, como o Rui Costa ao meio campo benfiquista. Mas voltando à noite de quinta, esta acabaria onde têm vindo a acabar as noites de quinta: na Várzea. Local de encontro, conversa, reflexão e caça dos Mais Além.
Na sexta-feira acordei tarde. Estava a gerir esforços, já que facilmente se adivinhava a “dureza” das restantes noites. A chegada da minha irmã a Pombal trazia carro, o que é sempre uma ajuda para poupar as pernas. As festividades de sexta começariam na holding, outro antro dos Mais Além. Por entre cartadas, guitarradas escorregaram as primeiras cervejas. Foi ainda na holding que o destino voltava a brincar com a, cada vez mais mítica, música dos Pink Floyd. O destino gosta de jogar com os Fantasmas, mas existem lugares em que nem a presença física dos mesmos nos incomoda. Começava aí uma indiferença mútua que se prolongaria até ao fim. Até agora.
A noite voltava a levar-nos ao bar dos motards. Pelo meio, o concerto do David Fonseca remexia sentimentos: recordaram-se momentos, lembraram-se pessoas, cumpriu-se o estipulado por mim mesmo. Era a força dos Mais Além a mostrar-se, numa noite onde até fantasmas inferiores tentaram interferir. Sem sucesso. Os Mais Além pegam os touros pelos cornos. Mais tarde, e depois de mais uns quantos cigarros e de umas quantas cervejas a noite viria a terminar no sitio do costume. A seguir vinha a noite de sábado, aquela que à partida seria a mais renhida, e para a qual me esforcei para recuperar a forma outrora perdida.
Sábado surgiu com um assunto sério que viria a ocupar a tarde inteira, pelo que o reencontro com o Bodo e com o grupo apenas se deu pouco antes do concerto dos Da Weasel. Aí sim, estivemos todos. A única noite em que o “grupo” esteve completo. E até o último dos Mais Além estava presente. Esclareci de imediato que a noite de sábado corresponderia às expectativas. Da Weasel até começou com “força” mas o facto de já os ter visto várias vezes e de ter uma garrafa de Gin fez-me estar mais calmo. Só lá para o fim é que embarquei nas loucuras dos concertos, mas sempre com o Gin bem agarrado, principalmente quando este sobrevoou umas quantas cabeças duvidosas. Com o final do concerto fomos para casa, digo para o bar dos motards. Já mais tarde e para mudar um pouco de ares passamos pelo Nicola onde as coisas já começavam a ficar sérias. Continuámos a ficar mais sérios, enquanto fazíamos os típicos passeios de Bodo entre a tenda e o arnado. Até que rumamos ao nosso antro espiritual, onde se criaria a mais espectacular história do Bodo: Os 5 Metros Arbustos. Prometo mais tarde postar aqui material vídeo que vos explicará a coisa, já que não consigo transmitir aqueles momentos em palavras. O que posso dizer é que surgiram algumas lesões e alguns cortes, uns mais graves que outros. Devido a isso mesmo a noite ficou mais lenta, já que a velocidade tinha de ser especialmente moderada. Já num momento de algumas recaídas, voltaram a aparecer Fantasmas. Admito que chatearam, mas não o suficiente para comprometer a noite para a qual recuperei a minha forma. Noite que iria terminar em casa de um Mais Além com um belo copo de Gin.
A “manhã” de domingo viria confirmar as mossas da noite de sábado. É certo que o facto de ter dormido no chão não tinha ajudado, mas a fatiga muscular tinha claramente uma origem herbácea. Mas para loucura das loucuras mesmo depois de regressar a casa, o chão continuou a ser a minha cama. O final da tarde, depois da recuperação possível, trouxe Carlsbergs que apesar de uma estranha apatia inicial acabariam por ser bastante bem vindas. A tarde traria ainda uma magnífica visão, digna de ser fantasma, mas que não cumpria os requisitos mínimos. A noite confirmaria o bar dos motards como nossa casa, já que para os ranchos folclóricos foram facilmente trocados pela cerveja barata (e muitas vezes à borla). Sentados nas cadeiras que já eram “nossas” conversámos sobre tudo e sobre nada. Os copos acumulavam-se fazendo uma bonita torre da qual nos orgulhávamos. A facilidade com que surgiam amizades confundia-se com a facilidade com que a cerveja nos vinha parar à mão. Ninguém se queixou, pelo menos directamente. Por fim juntou-se um Grande, e a noite ficou maior. Pelo meio os Fantasmas ainda chatearam mais um pouco, mas o antídoto vinha sempre parar-me às mãos. A madrugada foi de troca de experiências, de conversas saudáveis, de uma compatibilidade difícil de encontrar nos dias que correm. A manhã acabaria por surgir, como também surgiu a fome. Só depois veio o merecido descanso, quando já pensávamos na efemeridade do Bodo.
Quando acordei a manhã já era praticamente tarde, mas o sono manteve-se. A tarde foi para recuperação já que uma aula de condução marcada para as 18:00 pedia uma sobriedade estranha para um dia de Bodo. A noite surgiu rapidamente. Ao “grupo” juntaram-se mais uns quantos, sempre bem vindos. Em noite de despedida as ofertas surgiam a uma velocidade vertiginosa. Voltamos a ocupar as “nossas” cadeiras e as nossas mesas. O factor cansaço fazia com que a tenda não fosse sequer considerada. Pelo menos até nos mandarem embora. Os Fantasmas ainda apareceram uma última vez, mas a indiferença e a frieza gerada na sexta manteve-se até ao fim e a noite continuou. Os brindes sucederam-se, as pevides foram devoradas e as horas passaram-se. Viveu-se a última noite até que as forças nos abandonaram de vez. Acabava o Bodo 2006: O Bodo dos Mais Além…
 
2 Comments:


At sexta-feira, agosto 04, 2006 9:34:00 da tarde, Anonymous Anónimo

Adorei o texto. Diz muito sobre o que se passou. Nunca se conta a receita toda, é claro, mas foi texto que me tocou.
Saliento algumas coisas interessantes:
1- Sempre me habituei a conversas fantasmagóricas contigo em noites tambem fantasmagóricas, mas não estava habituado à clareza com que formalizaste este texto.
2- Tiveste um bodo extremamente fantasmagórico, eu não, mas entre um ou outro fantasma todos me passaram à memória e mereceram estados de espírito e letras que numa oportunidade mais favorável ao nível de tempo publicarei.
3- Perante esta afirmação "Várzea. Local de encontro, conversa, reflexão e caça dos Mais Além." eu pasmei. É que de facto têm-se por lá caçado todo o tipo de bixedo, com locomoção perfeita, coxos, de carro ou de moletas ao que consta! Por este facto, podemos considerar que não têm faltado caça. Mas o bixedo vê-nos que nem almas penadas e foge... Andam assombrados...
4- Ponto final e mais importante. O que vivemos e o título. Obrigado.

 

At sábado, agosto 05, 2006 9:39:00 da tarde, Blogger Rodrigo Cordeiro Escapa

comment feito pessoalmente

mas nao e de mais dize-lo...bom texto

paz[]