Não sei que dia é hoje.
Não sei que horas são.
Não sei que astro se ergue no céu.
Não sei se hei-de acordar,
Talvez dormir, talvez jantar…
Não. Eu não vou perguntar a ninguém.
Desabafo ao meu ouvido perguntas soltas,
Aquelas que me fazem durar.
Um dia gostava de viver de verdade!
Correr pelos carreiros da maior evasão,
Numa loucura feliz e sem história.
Não. Não me vou lembrar de nada,
E prometo não contar esta aventura…
Mas eu gostava, ahhh… Como gostava!
Ser loucamente livre. Ser unicamente livre.
Nada existe de mais livre que o alheamento.
Total, incondicional, exagerado.
Não sei que dia é hoje.
Não sei que horas são.
Mas sou tão estúpido e dominável como qualquer outro,
Qualquer outro que tenha de olhar o calendário.
A liberdade, a única sem limites,
Terrível perigo de civilizações aborrecidas e ordenadas,
Não existe em plena Razão. Talvez em êxtase!
Dêem-me a feliz loucura de nada temer,
Nada conhecer, nada procurar, nada memorizar,
Nada ofender, nada correr, nada segredar.
Até nada Ser, se Ser for condicionante!
Dêem-me esse total desentendimento,
E nesse dia entendo toda a irremediável sina,
A estupidez das crenças, modelos e fanatismos…
O que é uma sociedade?
Eu sozinho tenho de memórias e marcas tais,
Que meto sociedades no bolso dos fundos,
Entre a roçada ganga dos preconceitos,
E os forros imperfeitos da justiça.
Mil e uma vez queria lagosta, comi pão!
Injustiça diabólica e “fome social”.
Sou ou não sou uma bela sociedade?
Um par de raras vezes me calei,
Fui de políticas, cosméticos! Até caí em logros!
Sou ou não sou uma bela sociedade?
A justiça vai a oftalmologistas caros,
Os caros cidadãos esperam de pé e a pagar!
Contaram-me ontem que existia “dinheiro”,
Fui visitá-lo ao casino, acho que não é coisa de valor…
Nos media anorécticos e paranóicos dão disso!
Nas finanças parece que tiram, mas é social!
Vi também uns quantos tontos a serem felizes,
Devem ser tontos, todo o social olhava de lado para eles…
Acho que esses não são sociedades,
Não têm dinheiro, preocupações, modas e deuses plastificados.
Deve ser coisa feia não ser social…
Amanhã talvez saiba que dia será.
Dia de contribuição autárquica, Derrama,
Greves, Frustrações, injuriar a Europa, Desemprego,
Votar social blasfemando a sociedade…
Enfim… Quase por fim…
Vou ler um livro, escrever uma aberração social,
Ver quem chora de sede e guerra,
Dar-lhes uma mão e ser diferente.
Isto do social cansa, queria ser diferente um dia…
Isso! Ser livre!
Não há no supermercado?
Então que se dane! Compro banalidades!
Enfim… E agora por fim…
Sentido com o carinho que lhe confiarem.
Gostava de beijar todos os que amo.
Os meus lábios são livres naquelas bochechas…
Escrevi um talvez não isto sei lá! Isso mesmo!
Escrevi mergulhado na angustiante sociedade.
Então escrevi linhas talvez não isto sei lá.
Escrevi-as de livre e finalmente espontânea felicidade.
Pedro Carvalho (não datado)