Foi assim o meu dia carregado de Fantasmas do Passado, hoje, especialmente hoje, viajados dum presente longínquo para me abater, para baralhar, para confundir, para deixar de entender o que sinto, o que quero, o que vale e não vale a pena, onde me enganei. Fiquei triste, de facto, e muito concretamente vivi um dia triste. Ponto. Os Fantasmas tomaram conta de mim por momentos, viajei no tempo daquele Fantasma e perdi a noção do esforço, sacrifício, as partes boas e más do fantasma porque os fantasmas são por vezes saudade, são medo, são arrependimento, indefinição, são raiva, são ódio em alguns casos!
O meu Fantasma de hoje foi sobretudo um reviver de momentos péssimos, revi erros passados, voltei a arrepender-me do que já antes me arrependera, voltei e viver o que já antes fugira a viver, voltei a encarar de lado o que encarei de frente, suspiros interiores de algum guerreiro que não cansou de lutar, dizer o que pensa onde não é conveniente faze-lo, mostrar o desagrado, e dizer perante mim, perante a minha visão, perante o que pensava, falhas-te…
Falhaste Pedro. Se não fosse assim porquê os fantasmas? Os fantasmas do passado foram a jogo e ganharam, derrubaram-me por momentos, hoje no presente, com sentimentos passados, num confuso e pardo emaranhado de pensamentos, de contas, de visões, de momentos. Perdi. Hoje perdi.
Este fantasma que é uma situação bem concreta, acabou por se materializar a meus olhos hoje. Ter sido só hoje de certa forma foi um golpe bastante rude. Mostrou-me e ensinou-me, o dia de hoje, que apostei de mais em algo ténue de mais, falhei a aposta e a jogada saiu-me dura porque ao longo dos tempos deixei de ser o jogador e entrei dentro do jogo, com a emoção proibida a qualquer grande jogador.
No momento, cometi aquela que seria a minha posterior loucura de sentir, e isso deu-me alegria e tristeza, mas perdi. E hoje perdendo a aposta, mas sobretudo a crença, não em derrubar este Fantasma que nunca foi o meu objectivo, mas em que pudesse conviver com ele e em que ele afinal não se tivesse materializado, voltei ao tempo em que o Fantasma não existia e os seus intervenientes não o eram, voltei ao tempo em que eu não lidava com esse Fantasma. Naquela época, era feliz, mas a grande derrota foi recordar e não ser feliz nas recordações. O Fantasma foi mais forte que a própria história que depois de escrita nos parece imutável. Não é! Puro engano. Perdi no meio da sombra a percepção do que vale a pena. Senti que praticamente nada valia a pena porque é no que nos move que também nasce a desilusão. Senti um engano, um pesar ao olhar para trás.
Por isso falhei, perdi na jogada em que apostei tão alto, não me arrependo apenas pelo facto de assim ter aprendido. Tenho também pena de como o Fantasma se materializou, sinto até a amarga dor de ele me ter passado de frente e ter atacado de lado, típico dos intervenientes talvez…
Amanha será outro dia, e ele vai voltar, e eu, sem me agarrar à esperança de o ver desmoronar, a minha vida será sempre mais do que objectivos passados, irei vê-lo com pena, ali, a passar. Irei olhar e perceber que “Todo o mundo é composto de mudança…”, terei pena do tempo, mas serei mais feliz.
Pombal, 23 de Março de 2006, uma data para aprender e não recordar.