sexta-feira, setembro 29, 2006, posted by Pedro Carvalho at 7:34 da tarde
Lisboa, 18 de Setembro de 2006

Sentado, recostado e à janela. Assim observo à noite a cidade que não vi de dia. Por lá passei misturado neste Melting Pot urbano, amálgama de cores, luzes, sons, sinais…Mas não estive lá. Limitei-me a cumprir o dever de mais um alienado do tempo escasso.
Escrevo à meia luz de quem quer manter o escuro. Tranquilo e em paz. Estou tremendamente preenchido por inúmeras ideias a saber, foi este o meu caminho, o de saber ideias. Se me fechar ao fechar a janela, não ouvirei nada até ao acordar de amanhã. Mantenho-me aberto, como a janela. Aberto sem ter ligado sequer a televisão. Não sei o que se passa no mundo, este testemunho pode hoje ser banal porque nada mais sei que a minha realidade, a realidade da minha janela e da minha visão, também ela tranquila e em paz, pedindo-me inocente para que retire os óculos para que hoje possa ver em desfocado, numa realidade ainda mais vaga.
Não estou minimamente confuso ou triste hoje, muito embora me sinta estranho, razão tão suficiente para aqui vos escrever.
A razão primordial da minha existência, ser feliz, é hoje que como engolida por todo o comboio atropelante que é viver na capital, entre o inicio do sonho e o fim de um pensamento passam sete autocarros (todos eles atrasados), e três aviões, rasantes aos sonhos de quem quer voar sem asas um dia. No entanto, nunca me senti tão enérgico na minha secundária finalidade de vida que é a de fazer carreira. Estou-me a dedicar muito nestes primeiros dias de faculdade.
Permitam-me ainda que acrescente que esta visão “janelar” do mundo, em nada ofende a razão primordial da vida humana por estas bandas, a tão banal e enfadonha finalidade que é consumir, essa é só importante entre o Colombo e o Corte Inglês, ou entre a definição de Economia de Samuelson que tenho de saber. Mas por mais banal, muito embora fervorosa que seja, é intrínseca a todos os que aqui vivem, é respirável a cada cheiro queimado, é ouvida a cada sirene, é enovelada a nós em cada nó de Metro. Foi talvez essa a única vivência que hoje tive de Lisboa. Porque como, porque bebo, porque me desloco, porque estou vivo, aqui sente-se muito mais uma finalidade última de nós mesmos, a finalidade do descartável.
Isto não é Lisboa, mas isto também é Lisboa, e é muito Lisboa.
Fiquem bem