sexta-feira, dezembro 08, 2006, posted by Pedro Carvalho at 1:47 da tarde
Olhava a janela como tantas vezes faço. Perdão, olhava para o lado de lá da janela. Eu sei, eu sei… Tanta e tanta gente diz ver o mundo e saber ciências ou até conhecer homens e ideias só por olhar para a janela. Não sabem nada de facto, e o choque será maior quando um dia abrirem a janela e olharem realmente para o mundo, não aquela imagem que se vê na janela mas toda a urbanização humana do lado de lá do vidro.
Não, desenganem-se todos os que se já começam a sentir ofendidos. Na verdade isto acontece com muita gente. Eu próprio já me pensei olhando o mundo quando na verdade nada mais que uma janela eu estava a ver. Descobri às apalpadelas que existia saída daquele cubículo e que eu devia querer de lá sair porque lá dentro não sentia as gentes e o futuro. Sentia-me bem no engano de olhar pela janela. Os Fantasmas do Passado, penso que todos eles, nascem duma situação de cubículo delicioso transformado em armadilha silenciosa aquando da nossa percepção que assim não conhecemos o nosso redor. De todos os cubículos por onde estive preso alguns foram mais ilusórios que outros, mais duradouros, mais empolgantes e por isso mais “labirínticos” de sair. Caímos em prisões que se querem perpetuas, o melhor da vida são as fugas.
Hoje sou absolutamente livre de aprisionamentos? Não sei. O aprisionamento caracteriza-se por funcionar enquanto nós não dermos por sua contingência. No entanto hoje abri uma janela para ver de mais perto um arco-íris. Se me esticasse a tocar-lhe saberia que ele me iria fugir. Nunca hei de escorregar num arco-íris, maldita ilusão óptica ou lei da gravidade! No momento em que abri a janela deixei de ver o arco-íris. Algo no vidro provocava uma sensação errada de felicidade. Seria óbvio voltar a fechar-me no cubículo enfeitiçado mas eu não o fiz. O mundo verdadeiro tem vento, molha, faz barulho, tem gente má, e boa também, e acidentes, e notícias, e decisões, e erros, e enganos, e todos os dias acabam muitas coisas e começam algumas. O mundo verdadeiro é medonho se quiserem, mas eu fiquei o olhar o céu desconfortável, olhando fixamente para o lugar do céu onde o arco-íris era ornamento ainda à tão poucos minutos atrás.
Gosto da Verdade. Ela não é melhor ou pior porque para além da Verdade pouco mais existe com que se possa comparar a mesma Verdade. Então, entre a Verdade enegrecida pelas altas expectativas depositadas graças a uma ilusão traiçoeira, e viver para sempre nessa ilusão eu acredito que o melhor da vida são as fugas.