Eis a estória fantasmagórica da minha vida, e isto porque ainda não consegui explicar como tudo aquilo aconteceu. Tornou-se uma estória (com "e" porque não passa de um conto meu e não de uma História universal).
Antes de partir na minha viagem até terras catalãs, como todos os meus companheiros, preparei a minha mala. Acontece que a minha bagagem era constituída por uma mala enorme a minha mochila de objectos pessoais e úteis, seriam os objectos “pau para toda a obra” que fazem sempre falta numa viagem de 17 horas.
A mochila que levei para a viagem era a mala vermelha com a qual fiz o meu 11ºano e tinha dentro dela todos os elementos daquele ano lectivo (cadernos e livros). Todo aquele material eram já artefactos, porque na vida de um jovem um ano é uma vida, não que eu o desejasse, mas sim porque o tempo o conspira assim… Quando peguei em tudo, fiquei pesaroso, o tempo embora não mergulhando naquele ano, nem muito menos reflectindo naquela mochila tornou-se doce em recordações amargas, quase venenoso. Depois de desfolhar aquelas páginas e sentir-me perdido pelo tempo, fui o inútil incapaz de travar o tempo, e fui ainda o ser que estupidamente se quis desprender do presente, ainda hoje o não percebo porquê.
Mas percebi como já antes tinha percebido que o tempo dá-nos as maiores lições. Eis a história daquela fotografia. Após a leitura de todas as doces linhas fornadas por cores quentes que me arrepiaram no frio da minha leitura tão distante encontrei-me e fechei tudo, mas antes, antes de ter a minha mochila completamente vazia, tinha uma carteira velha, como todas as carteiras velhas.
Como todas? Não. Tinha uma fotografia antiga, não muito, o suficientemente antiga para a vida de um jovem. Não tinha dinheiro, é a coisa menos valiosa que temos na carteira mas é sempre aquilo que nos preocupa quando trocamos de carteira… Não tinha qualquer chave cartão ou papel. Estanquei perante algo enrugado e estaladiço de tão seco, eis a fotografia que por ser “a fotografia” tinha mais valor que qualquer outra coisa. Terá mesmo? Talvez resida nessa duvida a importância daquela fotografia. Tenho de ver aquela fotografia! Em linguagem fantasmagórica seria um encontro de terceiro grau, estúpido acidente de uma realidade que naquele ambiente me aparecia fantasiada. Quando olhei a fotografia, e olhei-a indeciso mas de frente, apareceu um borrão de tinta disperso, sim, a imagem de um fantasma em forma ondulada sem que se percebesse quem lá estava, ou seria mais correcto dizer quem lá esteve.
Na foto como em tudo, talvez o tempo retire de nós algumas coisas especiais, e se assim não fosse, este blog fecharia. Aquela foto, aquele tempo que passou, que se perdeu e onde me tinha perdido, todo aquele longo instante acabara quando ao olhar para a fotografia vi um borrão, vi um fim, vi um fantasma se me é permitido a estupidez da frase, vi algo que me perturbou. Ainda hoje não sei como a foto se destruiu, assim como não sei como as coisas da minha vida por vezes se destroem.
Os Fantasmas os Fantasmas… Sempre os Fantasmas, eu e Aquela foto.
Fiquem bem