Eis os dois textos escritos em pleno Bodo.
Primeiro dia
Ouvia à pouco entre os barulhos dos carros nos primeiros passos pelas minhas bandas “Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida…”.
Parece estar lançado naquele momento o Bodo. O Bodo 2006 mas podia ser qualquer outro, porque num ano tudo muda, mas porque também todos os anos é a mesma música.
Só os cantores mudam a cada cantiga… Mas não interessa, porque aconteça o que acontecer, o bom filho à casa torna.
Vou desfazer as malas.
Pombal, 27 de Julho de 2006
Efeméride
A data de hoje é uma efeméride na minha vida. Mas uma efeméride particular. Abre um ciclo de recordações de acontecimentos de índole fantasmagórica. São três da tarde, estou a acordar e logo logo me lembrei de fantasmas, num Bodo que a um dia do fim se pode apelidar de fantástico por tudo o que aconteceu, um Bodo livre de questões, um Bodo sem amarras, um Bodo que nos momentos vazios teve a inteligência de não se questionar sobre nada. Todo o Bodo assim foi, até que agora me lembrei de um composto essencial a mim mesmo: a memória. Aquela mistura que explode no tubo de ensaio de uma vida a ganhar novas experiências. Hoje estou metal líquido e fluído, ou talvez gás inerte, ou talvez cansado sem me aperceber, ou talvez drogado com alguma excitação própria dos dias, escamoteando o cansaço por demais evidente a cada movimento.
Viva! - Gritaria eu. Passei todo este Bodo absolutamente vazio. Agora não. Algo me percorre e me faz acordar e escrever.
Apenas uma dúvida me percorre: talvez esta efeméride faça sentido para mais alguém. Talvez não. Lembrar é coisa de quem tem fantasmas que assombram por sentimentos presentes ou passados, variados, e pensar sobre a memória da forma doce como o fiz porque a respeito e procuro entende-la deve ser coisa minha e de poucos. Quem quer ter memória? Abençoados os que se orgulham da memória.
Aos que se assombram por incómodo, cobardia, osmose ou peso de consciência, as memórias são afinal de contas pesos e nada mais.
Pombal, 31 de Julho de 2006