segunda-feira, agosto 21, 2006, posted by Pedro Carvalho at 1:52 da tarde
Que me querem ensinar?
Ensinem-me o que sou,
Ensinem-me o que quis ser,
O que devo ser,
O que devo querer ser.

Ensinem-me a não ter esperança,
Ou ensinem-me a realidade,
Ensinem-me os sonhos realizáveis.
Não! Desculpem tal atrevimento. Não!
Eu quero ser irrealizável,
Como a criança que não cresce.
Eu quero esses sonhos.
Eu quero acreditar.
Eu quero ter esse meu sustento.

Eles ensinam-me se estiver “errado”,
Eles ensinam-me a rotina,
Ensinem-me a ser igual,
Ensinem-me os camaleões,
Os vultos, o cosmético, as traições.
Ensinem-me a ter medo,
Ensinem-me a não valer a pena,
Ensinem-me algo.
Eles não têm nada para me ensinar.

Ensinem as vossas conquistas,
Os vossos postos,
Ensinem-me o seu preço,
E o vosso preço também.
Ensinem-me a vossa vida,
E a vossa servidão a essa morte lenta,
Por onde vivem, ensinem-me.
Ensinem-me o conformismo,
A usura e o poder.
Ensinem-me a ser gente,
Que é de gente aos molhos de cem,
O vosso capital e poder.
Eles não têm nada para me ensinar.

Então vem comigo, ou eu contigo.
Vem ser irreal comigo, ou eu contigo.
Vem dar o primeiro passo,
E tudo finda de seguida,
Só a tua marca fica,
E deixa pasto para outrem que não seja ovelha,
Que não queira ser gente sem saber,
Sem saber a responsabilidade que é ser gente!

Vem ser pouco gente,
Vem ser selvagem.
Porque deves a tua dignidade a ti mesmo,
A tua dignidade não é ordem ou preceito de ninguém.
Vem ser digno a ti, só a ti o deves.
Vem pensar por ti.
Que sejas velho sem nunca ter sido exemplo,
Os que te podem condecorar não são exemplo.
Vem e vê por ti,
Vê como se vê para além.
Vê o que pregam e prega por ti.

O poder não serás tu,
Mas não deixes que seja o que podem fazer por ti.


Pedro Carvalho, 12/08/06