Lisboa, 11 de Setembro de 2006
São 9:15.
Aqui ninguém olha… É estranha a distância, é compreensível a distância. É estranha a frieza, é compreensível a frieza. Nem mesmo o rapaz que escreve num caderno na esplanada do “Palma” é observado com particular atenção. Coisa estranha, coisa natural, estou perto da cidade universitária, certamente me imaginarão mais um universitário, hoje não erram no palpite, talvez errem em pensar que todos os universitários escrevem na esplanada do “Palma”.
Não é certamente por me sentir diferente que hoje escrevo. Escrevo porque ontem escrevia, concluindo: estou igual. Escolhi esta mesa porque era a que tinha duas cadeiras, e até hoje, eu e a minha alma sempre precisamos de uma só cadeira para escrever, não olvidando as não raras vezes marcantes, que escrevi deitado ou de pé, por isso a mesa com menos cadeiras foi escolhida.
É a primeira vez que escrevo em Lisboa. A sensação é completamente desmistificada de sentido, pelo menos hoje não me apraz particularmente escrever em Lisboa. Até hoje, a minha Lisboa está manchada de carros que passam, autocarros, táxis, os vidros dos carros que servem para nos pentearmos, e eu bebo mais um pouco de água,, e aterra um avião ali ao lado, um Pólo branco acaba de bater num poste ao estacionar, vai mais um autocarro a ir para os lados de Sete Rios, daqui a pouco tenho de me ir embora, uma mulher passa por aqui e tenta ler o que escrevo, acaba de desistir, e mais isto, e isto tudo, e isto nada, e isto agora preenche, e isto daqui a pouco é rotina, isto é Lisboa, isto é parte de Lisboa.
Sei quem vai ler este texto com mais atenção, os meus amigos que estão muito perto de mim, não são 150 quilómetros de distância, são lembranças de amizade, projectos futuros, um abraço, um sê feliz, um obrigado. A eles mais um pouco de tinta, o resto da garrafa de água de um só trago, um até já…
Vou entrar, ver o horário, posso ter aula a seguir, não sei e agora não é importante. O importante é ir, e pelo caminho apenas lembrar-me das minhas marcas, todas elas boas talvez, foram elas, as boas e as más que me trouxeram aqui.