segunda-feira, outubro 30, 2006, posted by Pedro Carvalho at 4:38 da tarde
Acabo agora mesmo de estudar para a frequência de matemática e instala-se um silêncio e um vazio neste meu quarto que me incomoda. Para o quebrar, vou directamente ao computador e escrevo sem destino (raras vezes as que não passa por um papel). Abro uma página do processador de texto e coloco logo título, chamo a este texto “Logo se vê”. Porque agora escrevo apenas para que o barulho do teclado suplante o silêncio complicado de digerir. Sinto-me a escrever livremente, e assim vou desabafar. Acabo de perceber então que este texto vai para o “Fantasmas” mais dia menos dia… Contínuo a escrever… Estou fluente e vai-me saindo, sempre ao mesmo ritmo, quebrando o silêncio, com esta cadência, este compasso, com este tom…
Sinto-me mergulhado num paradoxo que mais parece um puzzle, de tão complicado que se me oferece a solução. Percebo nos últimos dias que são os momentos de maior ocupação que me trazem mais fluentemente à cabeça “Fantasmas do Passado”. Sinto-me tremendamente estranho nesta condição… Sinto que “Fantasmas” de sempre guardados como que esquecidos, têm ocupado a minha cabeça, especialmente ao deitar. Não existe qualquer explicação racional para tal facto e isso lança-me no maior dos desassossegos!
Conheci um jovem na minha faculdade, que só consigo caracterizar de uma forma: um rapaz diferente como tão poucos outros… Por tal ausência de caracterização começo a nutrir amizade e acima de tudo uma estranha admiração por todo o seu mundo. Partilha comigo o total alheamento a que parece se ter orgulhosamente votado, no meio de toda aquela vasta panóplia recheada desde os mais brilhantes aos mais tristemente destituídos de qualquer senso; no entanto, jamais seremos sequer parecidos na forma como encaramos uma qualquer missão que possamos ter no mundo, e como somos diferentes no saborear de cada minuto…
Não seria minimamente lógico interromper o meu desabafo para falar de uma nova personagem da minha vida académica, no entanto, este parêntesis não é mais que a continuação de todo o desabafo. É que a sua forma de encarar o mundo torna os seus Fantasmas, leves dores de um caminho, a ser percorrido na mais breve calmaria de um pôr do sol de Verão. Talvez as ondas do seu mar sejam desprovidas de espírito, talvez prefira sentar-se na areia.
Eu prefiro saltar a correr e sentir o beijo do vento na cara, prefiro a maior onda do oceano no meu coração, a um coração sem ondas, prefiro sempre o “Mais Além”. Mas pela primeira vez, uma forma de estar que não a dos “Mais Além” tem o leve trago do encanto na minha boca. A minha alma, cavalo selvagem de sensações, está carregado de feridas de tanto correr. O homem que se sentou na areia no pôr-do-sol, não conhece o mundo, mas apenas se sente dorido de manter toda a vida a mesma posição.
Ambos iremos morrer, mas quem saberá o que realmente vale a pena?
 
sexta-feira, outubro 27, 2006, posted by Pedro Carvalho at 7:15 da tarde
A cidade esta deserta.
E alguem escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura,
Ora amarga, ora doce,
(...)

Ornatos Violeta


Porque sim. Ou porque não sei bem...
 
quarta-feira, outubro 25, 2006, posted by Pedro Carvalho at 1:11 da tarde
Hoje fiz uma “maratona” necessária para quem leva estas coisas a sério. Algo de extraordinário, do alto da sua imprevisibilidade aconteceu. Comecei a ler textos do “Fantasmas”, li como se fossem histórias de alguém que não conhecia. Estava a gostar, tanto e de tal forma que li mais de metade do blog.
Pasmei perante frases que eu próprio tinha feito em tempos que correram e que fizeram correr. Reparei que este blog não vai ter um fim quando li “Oliveiras de vida”, “Que haja mais luz”, “A história dos Mais Alem”, “Quando ganhamos terreno aos nossos fantasmas”, “Deixemos de caçar”, mais recentemente o “Aos que tem medo d’ Fantasmas do Passado”, já à muito tempo atrás o “Pensamentos, sonhos e nadas”… Enfim, uma panóplia bastante apreciável de sorrisos, actos, lembranças, lágrimas, desafios, respostas, vitórias… Invadiu-me um tremendo orgulho!
Tive particular interesse em ler o ido texto de 9 de Abril “A estória daquela fotografia” , gostei mais de o ler à distancia tão mais tranquila do tempo que no momento da escrita. Achei-lhe piada, achei-me com piada na caótica turbulência dos meus dias e achei-me para ali a ler e ler e ler…
Achei-me como espero achar-vos a vós. Como espero achar aqueles que conheço e sei que lêem com interesse. Noto que tudo o que escrevo no “Fantasmas” nunca é tema de conversa de café com nenhum dos leitores conhecidos, mas é sempre tema de assuntos fantásticos. Noto também que seria grande o prejuízo em parar, e seria mais curto o contributo que eu daria para mística que carregam grande parte das amizades que hoje alimento com gosto. Hoje sou o grande amigo de alguns grandes amigos. Com as qualidades e defeitos de sempre, mas com a particularidade de ser o “menino daquelas frases”. Gosto disso. Os meus grandes amigos gostam disso.
E é por mim, pela minha consciência, valores pelos quais tento primar e também pelo simbolismo que tem cada um destes textos que continuo como no primeiro dia, sempre a evoluir passo a passo mas com muito gosto em aprender, procurando sempre a Luz, aquela que tanto marca este blog, e felizmente as decisões da minha vida.
E para continuar a haver Luz, siga a emissão.
 
sábado, outubro 21, 2006, posted by Pedro Carvalho at 4:53 da tarde
Dei uma enorme bancada cerebral: pus-me a ver as fotos de Loret…
 
segunda-feira, outubro 16, 2006, posted by Pedro Carvalho at 6:18 da tarde
Pombal, 14 de Outubro de 2006

Estou no local a que se dá por nome de Bixo. Pedi ao Sr.Mário um pequeno papel e uma caneta. Ele aprovou, parecendo adivinhar que necessitava de escrever.
Vi ali sentado um menino, um menino como outro qualquer. Totalmente alheado aos maus exemplos que aqui o rodeiam. Mas não são maus exemplos pelo que fazem. Respeito, admiro. São maus exemplos pelo que não o conduzirão a fazer, pelo mundo que lhe não irão conseguir abrir. Um mundo que não conhecem, porque também eles foram meninos, mergulhados nos mesmos exemplos de desistência. Também eles uma vez foram meninos que deixaram de acreditar. Exemplos desse tal mundo que também nunca ousaram poder conhecer. São filhos das gentes. Das gentes que precisaram de crescer à velocidade da fome. Condenados ao tempo em que nasceram. Condenados à cegueira, ao campo atrasado de tão infértil e cruel, condenados à fábrica barulhenta, de tão mecanizada e frustrante.
Estes homens têm tanta culpa do que são, mas tão pouca culpa do que se tornaram…
Tenho pena deste menino. Existe tanta possibilidade em ser pobre e genial como em ser rico e improdutivo. Existe uma vã esperança em ser sonho concretizado. Sonha menino! Sonha e lança sonhos ao mundo, os teus e os meus se puderes. Lança aquilo que me faz acreditar em tudo o que os privilegiados fazem este mundo esquecer.
Quero orgulhar-me de ti criança. Como as outras tão diferente na condição. Foste votado ao mundo onde nasceste. Como eu, como os teus pais, como todos, votados à condição.
Condenem-nos a todos à imprecisa e esquecida liberdade, não a essa de ir votar aos Domingos, mas à liberdade de querer nascer igual.
Quero essa, a liberdade frustrada desde o pó egípcio sobre o Nilo às labaredas de Roma, essa falhada de Carlos Magno ao Império da Áustria, essa perdida no fundo convenientemente esquecido dos baú Romanov às artes dos Médicis de Florença.
Essa menino. Talvez não consigas, talvez nem consigas ser menino, talvez seja um sonho.
Quero sonhar assim, toda a vida assim…
 
, posted by Pedro Carvalho at 5:44 da tarde
Eis a indubitável verdade do ser: "Tenho reinado muito tempo. Os meus inimigos odeiam-me, os meus súbditos amam-me, os meus aliados respeitam-me… Nesta situação contei quantos dias tive de pura e genuína felicidade na minha vida: foram catorze! Oh homem, não confies nas coisas terrenas."

Califa Abdurammon
 
quarta-feira, outubro 11, 2006, posted by Pedro Carvalho at 6:09 da tarde
Conto-vos hoje uma história real. A parte da minha história real, minha com um adocicado toque de "nossa história real". A Quinta do Regato tem um verdadeiro conto que merece ser contado. O conto que vos conto, é a razão cimeira de minha presença contínua no Regato, no verdadeiro Regato, naquele Regato dos poucos, ou no Regato dos que sobram se preferirem.
O Regato tem magia. Pois bem, acabo de vaticinar algo de trivial! Mas quem sabe se todas as terras não têm a sua magia? Não têm. É uma questão muito nossa eu sei, mas existe no Regato mais do que a já famosa manifestação amigável e de companheirismo. O Regato carrega histórias passadas, enganos, alegrias, toques, memórias, cantinhos, fotografias… Carrega e carrega-nos por vezes. Ao Regato devemos lições que nos tornaram o que somos. E como me lembro eu de um menino tantas e tantas vezes deixado lá atrás, hoje mais crescido, e sim podes ser tu companheiro dessas horas que agora lês o que conto e te lembras de ti, de mim e do Regato, os três juntos lá, como agora.
No Regato, não raras vezes tive momentos maus, mas só num deles saí dali, disse a quem de direito que estava cansado, estava, estava o suficientemente cansado para não conseguir viver a vida e saí. No Regato vive-se tudo a valer, não vale desistir, não vale esquecer. Vale apenas sentir tudo, de toda a forma, em toda a oportunidade frequente naquelas noites.
Permitam-me recordar o Regato como o hino à liberdade e confessionário dos pecadores. No fundo, é um nosso avô, o ombro secular de mão dada com os seus fieis, seguidores numa irmandade sem precedentes.
E esperam vocês o conto não é verdade? Pois olhem numa noite escura, muito escura, negra na vossa alma, para o que vos rodeia. Sentes-te triste, sozinho e só mais um entre tantos… Então agora sê um dos privilegiados, não em ir ao Regato, mas em sentir o Regato. És um deles? Então, vai à eira, sobe o pequeno muro de pedra tosca, respira fundo, limpando as nuvens negras e estranguladas dentro de ti, faz silêncio, ama o silêncio e olha em frente… Pombal. Pombal à noite. Uma cidade na sua ocupação atabalhoada.
Estás no Regato, na mais perfeita paz de espírito, numa comunhão perfeita entre ti, o teu passado, a eira, os medos e o futuro. Sente a maior lição e testemunho de confiança que aquelas oliveiras, aquela carroça, aquele campo te dão, se eles falassem diziam-te: “Tu és um dos que estás aqui e percebeste o porquê de aqui estar, em troca te damos o privilégio de estar por cima, de ver por cima. Lá em fundo vês o esforço das barreiras passadas e por passar, mas tu estás aqui, por cima do escuro, do medo e da falsidade.” E se algum dia eu lá voltar faria o mesmo podem querer, porque aquele menino que fomos, tivemos muito orgulho em ser.
Sobre o Regato um dia escrevi: “Vou-me embora de ti,/Regato em pousios de sensatez,/Saboreando ventos de luzes lá em fundo”.
Ao Regato o meu "Adeus cansado mas na tranquilidade e paz inestimáveis de sempre".
 
quarta-feira, outubro 04, 2006, posted by Pedro Carvalho at 3:52 da tarde
Todo o caos do mundo,
Exprime a sua verdadeira ordem e essência.
No caos se espelha o que de mais natural espero:
A imaginação, a liberdade e a audácia Humana.

Porque haveria eu de seguir os escritos?
Escrevo a minha história com o meu dom,
Para assim me tornar o mago da Realidade,
Da minha Realidade estilhaçada por espíritos múltiplos.

No meu mundo, o nevoeiro da manhã,
Opaco de claros desconfortos,
Some-se a cada lágrima que brota da minha tristeza,
Secando a cada sorriso luminoso do sol,
Que se põe solarengo e molengão no final dos meus dias.

Todos diferentes, escolhendo-me seu narrador e personagem.
Assim é a minha Realidade desconexa.
Conjuntos solitários de tão diferentes a cada dia,
De formas tão disformes a cada sentimento pulsado.

Toda a minha Realidade é o espelho do meu mundo.
A Realidade sou eu, a memória, a dor e o intelectual.
O resto reza o esquecimento.
Só a Realidade a mim me fica e me cabe.

Pedro Carvalho 27/09/06