Conto-vos hoje uma história real. A parte da minha história real, minha com um adocicado toque de "nossa história real". A Quinta do Regato tem um verdadeiro conto que merece ser contado.
O conto que vos conto, é a razão cimeira de minha presença contínua no Regato, no verdadeiro Regato, naquele Regato dos poucos, ou no Regato dos que sobram se preferirem.
O Regato tem magia. Pois bem, acabo de vaticinar algo de trivial! Mas quem sabe se todas as terras não têm a sua magia? Não têm. É uma questão muito nossa eu sei, mas existe no Regato mais do que a já famosa manifestação amigável e de companheirismo. O Regato carrega histórias passadas, enganos, alegrias, toques, memórias, cantinhos, fotografias… Carrega e carrega-nos por vezes.
Ao Regato devemos lições que nos tornaram o que somos. E como me
lembro eu de um menino tantas e tantas vezes deixado lá atrás, hoje mais crescido, e sim podes ser tu companheiro dessas horas que agora lês o que conto e te lembras de ti, de mim e do Regato, os três juntos lá, como agora.
No Regato, não raras vezes tive momentos maus, mas só num deles saí dali, disse a quem de direito que estava cansado, estava, estava o suficientemente cansado para não conseguir viver a vida e saí.
No Regato vive-se tudo a valer, não vale desistir, não vale esquecer. Vale apenas sentir tudo, de toda a forma, em toda a oportunidade frequente naquelas noites.
Permitam-me recordar o Regato como o hino à liberdade e confessionário dos pecadores. No fundo,
é um nosso avô, o ombro secular de mão dada com os seus fieis, seguidores numa irmandade sem precedentes.
E esperam vocês o conto não é verdade? Pois olhem numa noite escura, muito escura, negra na vossa alma, para o que vos rodeia. Sentes-te triste, sozinho e só mais um entre tantos… Então agora
sê um dos privilegiados, não em ir ao Regato, mas em sentir o Regato. És um deles? Então, vai à eira, sobe o pequeno muro de pedra tosca, respira fundo, limpando as nuvens negras e estranguladas dentro de ti, faz silêncio, ama o silêncio e olha em frente… Pombal. Pombal à noite. Uma cidade na sua ocupação atabalhoada.
Estás no Regato, na mais perfeita paz de espírito, numa comunhão perfeita entre ti, o teu passado, a eira, os medos e o futuro. Sente a maior lição e testemunho de confiança que aquelas oliveiras, aquela carroça, aquele campo te dão, se eles falassem diziam-te: “Tu és um dos que estás aqui e percebeste o porquê de aqui estar, em troca te damos o privilégio de estar por cima, de ver por cima. Lá em fundo vês o esforço das barreiras passadas e por passar, mas tu estás aqui, por cima do escuro, do medo e da falsidade.” E se algum dia eu lá voltar
faria o mesmo podem querer, porque aquele menino que fomos, tivemos muito orgulho em ser.
Sobre o Regato um dia escrevi:
“Vou-me embora de ti,/Regato em pousios de sensatez,/Saboreando ventos de luzes lá em fundo”.
Ao Regato o meu "Adeus cansado mas na tranquilidade e paz inestimáveis de sempre".