Acabo agora mesmo de estudar para a frequência de matemática e instala-se um silêncio e um vazio neste meu quarto que me incomoda. Para o quebrar, vou directamente ao computador e escrevo sem destino (raras vezes as que não passa por um papel). Abro uma página do processador de texto e coloco logo título, chamo a este texto “Logo se vê”. Porque agora escrevo apenas para que o barulho do teclado suplante o silêncio complicado de digerir. Sinto-me a escrever livremente, e assim vou desabafar. Acabo de perceber então que este texto vai para o “Fantasmas” mais dia menos dia… Contínuo a escrever… Estou fluente e vai-me saindo, sempre ao mesmo ritmo, quebrando o silêncio, com esta cadência, este compasso, com este tom…
Sinto-me mergulhado num paradoxo que mais parece um puzzle, de tão complicado que se me oferece a solução. Percebo nos últimos dias que são os momentos de maior ocupação que me trazem mais fluentemente à cabeça “Fantasmas do Passado”. Sinto-me tremendamente estranho nesta condição… Sinto que “Fantasmas” de sempre guardados como que esquecidos, têm ocupado a minha cabeça, especialmente ao deitar. Não existe qualquer explicação racional para tal facto e isso lança-me no maior dos desassossegos!
Conheci um jovem na minha faculdade, que só consigo caracterizar de uma forma: um rapaz diferente como tão poucos outros… Por tal ausência de caracterização começo a nutrir amizade e acima de tudo uma estranha admiração por todo o seu mundo. Partilha comigo o total alheamento a que parece se ter orgulhosamente votado, no meio de toda aquela vasta panóplia recheada desde os mais brilhantes aos mais tristemente destituídos de qualquer senso; no entanto, jamais seremos sequer parecidos na forma como encaramos uma qualquer missão que possamos ter no mundo, e como somos diferentes no saborear de cada minuto…
Não seria minimamente lógico interromper o meu desabafo para falar de uma nova personagem da minha vida académica, no entanto, este parêntesis não é mais que a continuação de todo o desabafo. É que a sua forma de encarar o mundo torna os seus Fantasmas, leves dores de um caminho, a ser percorrido na mais breve calmaria de um pôr do sol de Verão. Talvez as ondas do seu mar sejam desprovidas de espírito, talvez prefira sentar-se na areia.
Eu prefiro saltar a correr e sentir o beijo do vento na cara, prefiro a maior onda do oceano no meu coração, a um coração sem ondas, prefiro sempre o “Mais Além”. Mas pela primeira vez, uma forma de estar que não a dos “Mais Além” tem o leve trago do encanto na minha boca. A minha alma, cavalo selvagem de sensações, está carregado de feridas de tanto correr. O homem que se sentou na areia no pôr-do-sol, não conhece o mundo, mas apenas se sente dorido de manter toda a vida a mesma posição.
Ambos iremos morrer, mas quem saberá o que realmente vale a pena?